16 Se
anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa
obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! 17 Se o faço de livre vontade, tenho galardão;
mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está
confiada. 18 Nesse caso, qual é o meu
galardão? É que, evangelizando, proponha, de graça, o evangelho, para não me
valer do direito que ele me dá. 19 Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo
de todos, a fim de ganhar o maior número possível. 20 Procedi, para com os judeus, como judeu, a
fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu
mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja
eu debaixo da lei. 21 Aos sem lei, como
se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de
Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. 22 Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de
ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos,
salvar alguns. 23 Tudo faço por causa do
evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele. 1 Co.9.16-22.
INTRODUÇÃO
O
propósito de nosso estudo sobre evangelho e cultura trata de nos aprofundar
acerca das diferentes formas culturais e como tais podem ser utilizadas na
propagação do evangelho. E como estas formas podem interferir no
desenvolvimento pessoal, ministerial e eclesiástico.
Todos
nós sofremos interferência cultura em nossas atitudes, quer seja em maior ou
menor grau. A interferência cultural pode ser classificada em três formas: De maneira positiva; tanto de maneira positiva
quanto negativa e de maneira negativa.
CULTURA, UMA SEGUNDA NATUREZA.
O que é
cultura? É o estilo de vida, padrões de comportamento, modo de
pensar e valores de um povo, casta ou classe social. No dicionário significa:
sistema de atitudes e modos de agir, costumes e instrução de um povo.
Todos nós pertencemos a um intrincado ecossistema e trazemos conosco in loco uma grupal e similar cosmovisão
a que chamamos “cultura”. Cultura,
pois, esta ligada a totalidade dos produtos da atividade humana (materiais e
espirituais).
A cultura também pode ser definida como a segunda
natureza que procura suprir a ausência parcial de estruturas instintivas em
nós. Tal afirmação pode ser exemplificada em
linguagem de informática onde cultura pode ser representada como sendo nosso
“OS” (Sistema Operacional) pelo qual interioriza e orienta o programa de nossas
estruturas psíquicas, valores, normas e até linguagem.
Ao mesmo tempo em que
somos personalizáveis segundo gosto particular e possuímos customizações que
nos identificam como “persona” ou
indivíduos. Assim apresentamos sistemas comuns que nos assemelham como grupo
social e funcionamos de forma semelhante regido pelo mesmo padrão cultural.
Não é
possível viver sem pertencer a um grupo social e não é possível pertencer a um
grupo sem compartilhar uma determinada visão de mundo (cosmovisão), de valores,
normas morais, linguagem, idiossincrasia, instituições, etc.
De fato, cada pessoa constituída em sua
particularidade pode agregar vários comportamentos sociais específicos que vão
delinear seu perfil cultural e idiossincrasia. Este perfil é influenciado por sua etnia, naturalidade, local de
residência, grau de escolaridade, tipo de geração a qual
pertence, grupo de interesse e etc.
A ORIGEM DA CULTURA ESTÁ NA CRIAÇÃO SOCIAL
Esta segunda natureza, a
que chamamos de cultura, é uma criação social gerada de um padrão ou “sistema operacional” de valores. Sendo
transmitida, atualizada e aprimorada de geração em geração como resultado de soluções
e respostas criativas na superação de cada
desafio que a vida nos apresenta pelo decorrer da história.
OBJETIVAÇÃO DA CULTURA E A FORMA COMO LIDAMOS COM
O DIFERENTE
Outro
aspecto importante a ser destacado está na dificuldade que temos em perceber quando uma determinada cultura se torna nossa segunda
natureza dada à assimilação. Ela, pois, representa para nós "a
realidade" e não uma interpretação da realidade entre outras possíveis.
Esta orientação cultural determina nossos comportamentos e conceitos
pelo estabelecimento e legitimação de critérios entre aquilo que pode ser
considerado válido ou inválido, normal ou anormal. A cultura passa a exercer, então, um poder coercitivo.
Obviamente, por
força cultural a reprodução desse processo dá às pessoas um forte sentimento de
segurança e de normalidade, o que as leva a rejeitar aquilo que é diferente e inovador, principalmente quando tal questiona e conflita com a ordem que é aceita
e estabelecida pelo padrão social.
Daí as pessoas com maiores restrições
culturais serem as mais inclinadas à coerção e sanções aplicadas, pois tais
inovações sociais acabam por ferir seu frágil sentimento de segurança
e normalidade.
Logo, neste constante
processo de transformação cultural e de acordo com nível assimilação da mesma,
nós podemos classificar culturalmente a ordem da sociedade por “tradicional” ou
“moderna”.
SOCIEDADES TRADICIONAIS E SOCIEDADES MODERNAS
Há dois grandes modos de legitimar a ordem
conforme o tipo de sociedade:
TRADICIONAL:
Quando a sociedade é legitimada em nome da tradição que alega ser guardiã dos valores sociais que
proporcionam estabilidade e segurança. Nesta ordem estática nada de fundamental pode ser modificado, tendo, portanto, representação da religião como um de seus principais expoentes e uma das bases de sua legitimação.
O sistema moral, com seus valores e normas justificados, tem papel fundamental
na reprodução da ordem vigente e nos mecanismos de sanção e repressão às
tentativas de inovação.
Porém
eles não deram ouvidos a isso; antes, procederam segundo o seu antigo costume.
2 Reis 17:40
Por
que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as
mãos, quando comem. Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também
o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? Mateus 15:2,3.
MODERNA: Com as mudanças geradas com o mundo, o progresso torna-se um elemento fundamental tanto no campo ético quanto
material. Neste aspecto a tradição
transforma-se em obstáculo.
Na
sociedade moderna surge o sujeito como indivíduo autônomo
que é valorizado em detrimento da
coletividade, cuja ação não
tem limites; pois ao indivíduo moderno o novo passa ser o sinônimo do que há de mais
elevado. Assim, bom é ser inovador, progressista. Nela existe uma visão extremamente otimista da história humana assumindo uma forma de mito ou crença forte em que o progresso
conduz a um amanhã melhor.
O seu proceder não lhes
permite voltar para o seu Deus, porque um espírito de prostituição está no meio
deles, e não conhecem ao SENHOR. Oséias 5:4
Evidentemente
que cada uma destas ordens sociais: tradicional ou moderna traz consigo
benefícios e detrimentos a serem pleiteados. Diante destes acirrados defensores:
ciência ou religião cabe à mesma sociedade como júri arbitrar seu próprio
destino.
O ENDEMONINHAMENTO DA CULTURA
SECULAR
Tal é a situação encontrada na sociedade atual, contudo, no
mundo secular a cultura tornou-se cada vez mais endemoninhada.
Por exemplo: O forte apelo a sensualidade entre a moda e o
despertamento da sensualidade cada vez mais precoce no coração das crianças.
Sabemos que muitos traumas sexuais, se originam na infância, por falhas dos
pais ou responsáveis; quer pela curiosidade ou por pessoas que aproveitam de sua
ingenuidade.
3 Mas, se o nosso evangelho ainda está
encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, 4 nos quais o deus deste século cegou o
entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho
da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. 2 Co.4.3,4.
Podemos
afirmar que o deus deste século aqui relatado como EON, cujo espírito determina
os padrões culturais deste século. Desta forma, reconhecemos a existência de
uma guerra de valores, princípios espirituais; sendo os valores e princípios de
Deus em contrariedade com os valores do mundo influenciados por satanás, dentro
de nossa cultura. Assim, um deverá vencer o outro.
3 Porque, embora andando na carne, não
militamos segundo a carne. 4 Porque as
armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir
fortalezas, anulando nós sofismas 5 e
toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo
todo pensamento à obediência de Cristo, 6
e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a
vossa submissão. 2 Co. 10.3-6
No
texto acima (2 Co.10), Paulo descreve que as armas do Evangelho são poderosas
para destruir fortalezas, as quais muitas delas estão inseridas e impregnadas
em nossa cultura, isto é, nosso estilo de vida, padrões de comportamento, nosso
modo de pensar e valores criam fortalezas que tende neutralizar a operação do
Evangelho. Por isso o próprio Evangelho se opõe a elas.
UM CULTO AMOLDADO A CULTURA E
NÃO AOS CÉUS
Outro fator preocupante
que leva a constatação em que a cultura evangélica tem sido mais influenciada
pela cultura secular e terrena do que celestial está na apresentação de moldes
seculares de liturgia. Pois, a forma cerimonial de algumas igrejas está
condicionada a cultura de um povo, a sua posição social e outros fatores
étnicos. Embora, devemos ter o pré-conhecimento de que nem sempre uma forma
ritual, litúrgica ou cerimonial estabelecida em uma comunidade deva ser
imutável, tendo-a como norma ou lei universal.
Assim, os fatores
culturais e sociais influenciam as igrejas dentro de uma mesma região, embora tais
igrejas possam ter nível social distinto.
Então, vemos que igrejas
do interior preferem hinos e cânticos no estilo sertanejo, semelhante aos
moldes culturais de sua membresia; ou em outros países o country ou folclórico;
enquanto as localizadas em cidades e perímetros urbanos preferem louvores mais
ritmados, semelhante aos padrões culturais de sua grei. Vemos que a liturgia
muda conforme a circunstancias sociais, porém, a mensagem bíblica que se
propõem o evangelho deveria permanecer a mesma.
13 O Senhor disse: Visto
que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me
honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste
só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu, Isaías 29.13.
UMA CULTURA CELESTIAL
17 Isto, portanto, digo e no Senhor testifico
que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios
pensamentos, 18 obscurecidos de
entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela
dureza do seu coração, 19 os quais,
tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez,
cometerem toda sorte de impureza. 20 Mas
não foi assim que aprendestes a Cristo, 21
se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a
verdade em Jesus, 22 no sentido de que,
quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo
as concupiscências do engano, 23 e vos
renoveis no espírito do vosso entendimento, 24
e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão
procedentes da verdade. Ef.4.17-24 .
Baseado nos versículos acima, nós podemos considerar que o Evangelho é a cultura
de Deus, e uma introdução à cultura dos céus. Através do Evangelho vem ao homem
contemporâneo à transmissão dos valores e padrões celestiais e de nossa eternidade.
Quando aceitamos a
Jesus Cristo, nos tornamos cidadãos celestiais pela adoção de uma nova identidade; assim, em muitos aspectos, nós somos desafiados a
trocar conceitos e valores de nossa cultura e nossa visão. Recebendo da parte
de Deus uma nova ótica das coisas, nova visão, nova concepção e nova percepção
do mundo que vivemos e viveremos.
É tarefa
do Espírito Santo (que habita em nós) fazer com que a verdade de Deus domine sobre
nosso pensamento "renovando a nossa mente". Foi isso que o Senhor
Jesus disse:
" o Consolador, o Espírito Santo. ..vos
ensinará todas as coisas e vos fará
LEMBRAR de tudo o que vos tenho dito"
Jo 14.26
Daí, surge uma pergunta:
Será que há em algo nossa cultura que nos leve a uma vida vitoriosa em Cristo
Jesus. Necessitamos ser transformados pela RENOVAÇÃO da nossa MENTE e isso se
faz através da Palavra de Deus. Observe o que diz Paulo:
"Os que se inclinam para a carne
COGITAM das coisas da carne. mas os que se inclinam para o Espírito das coisas
do Espírito. ..o PENDOR da carne da para a morte mas o do Espírito para a vida
e paz. Por isso o PENDOR da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito
à lei de Deus. .." Rm 8.5-7
Desta forma, devemos avaliar se de fato nossa fé
e conversão a Deus constitui nosso “OS” restando assim para cultura ser nosso
software de trabalho; ou se a cultura é o Sistema Operacional de nossa vida e a
fé nossa plataforma de trabalho.
Além
disso, estamos convictos que as pessoas escolhem sua conduta
de vida cristã e até sua congregação mais por um
critério cultural do que por uma direção do Espírito. Até porque elas não sabem
ter direção espiritual para tal, pois na
ausência de uma orientação espiritual a cultura assume esta função.
Mas, Deus na sua multiforme sabedoria aproveita
esta variação cultural para permitir diversidade de igrejas; Talvez sejam os
homens que criam igrejas a fim de adaptar a fé a seus ditames culturais, em
todo caso, tais pessoas são volúveis, pois são guiadas pela volatilidade da
alma subserviente a cultura.
RENOVAÇÃO ECLESIÁSTICA COMO
PERFIL DE IGREJA PARA GERAÇÕES X Y Z E ALFA
Tendo em vista à busca
por um enquadramento maior de nosso papel como igreja não só para estas gerações
denominadas “X” e “Y”, como também para gerações dos próximos trinta anos. Propomos
análise profunda de suas estruturas psicossociais, adequação e alcance destas
várias camadas sociais.
O Estudo
comportamental constata que o desenvolvimento social emergiu das gerações que
década após décadas vêm quebrando tabus tornando as novas gerações mais abertas na
exposição de seus pensamentos frente aos tabus de outrora.
Que leva a constatação
que as elites de classes sociais das gerações Z e Alfa estão cada vez mais conscientes
de suas realidades sociais, com posturas cada vez mais ecológicas e saudáveis
(visa à longevidade). São globalizadas, adeptas à tecnologia, conectadas, digitalmente
nativas, e customizáveis dentro de seus conceitos sociais; é importante
ressaltar que a linha de separação entre trabalho e lazer tornou-se mais estreita
e flexível (SOHO) com aplicação de tarefas e funções múltiplas, afetando consequentemente
as atividades da igreja.
Tais gerações constituem um público exigente e ávido,
de crescente individualismo e extremada competição, não hesitam em mudança,
estão sempre na busca por novidades, são marcados pela possibilidade de
várias
opções, pela facilitação da oferta de todos os tipos, bem como de escolhas: "Geração das Escolhas".
Propomos, portanto,
renovação de perfil eclesiástico a fim de enquadrar-se nas atuais gerações “X”
e “Y” e em “inevitável mudança social”
a alcançar gerações “Z” e “Alfa” proclamando de forma contemporânea a eterna
verdade de Deus.
Desta forma, é mister
buscar mudanças que por nós deverão passar nos aspectos da
transformação pessoal, do perfil e da estratégia:
ü No aspecto pessoal: A apresentação de mudanças em nossa aparência visual é crucial, tanto institucional
quanto pessoal, devemos possuir uma aparência mais jovial, informal e descontraída; menos sisuda (demonstração
de uma aparência mais amiga, menos autoritária). Devemos ter mente ensinável a fim
de evitar a zona de conforto e a predisposição à religiosidade que tende sempre
a dizer não.
ü No tocante ao perfil
eclesiástico: A fim de tornar-se uma igreja acessível e atrativa devemos
buscar constante atualização na adoração (modern worship); Inovação no segmento da informática (virtualização e
conectividade); Em meio a muita informação que aparece numa escala de
progressão geométrica as gerações carecem de orientação: “o chefe torna-se líder” pelo perfil de
discipulado e mentoria.
ü No campo da estratégia: Dado ao aumento
do individualismo, da competitividade, da diminuição de valores como fidelidade, da tênue
linha entre lazer/trabalho, da falta de habilidades
em relacionamentos interpessoais; sabemos que um dos pontos cruciais destas gerações será o
relacionamento levando-nos a avaliar possíveis soluções como disponibilização e flexibilidade de escolhas.
Além de nossas alternativas clássicas de casa luz e trilho de liderança; a
viabilidade de casas luz de interesse, ou casas luz temáticas, como casa luz de cura interior,
libertação, poder, etc. Permitindo rotatividade conforme necessidade do
indivíduo e relacionamento por temas de interesse.
CONCLUSÃO
Assim, a igreja do futuro
será capaz de assimilar e adequar a maior biodiversidade cultural possível.
Semelhante uma “POLIS”, a qual absorve todas as tribos urbanas, etnias e
modalidades culturais em suas microrregiões; assim a igreja, como uma grande cidade
ou metrópole deve agregar suas várias modalidades étnicas e culturais destes
segmentos.