14 de mar. de 2012

EVANGELHO E CULTURA


16  Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! 17  Se o faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada. 18  Nesse caso, qual é o meu galardão? É que, evangelizando, proponha, de graça, o evangelho, para não me valer do direito que ele me dá. 19 Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. 20  Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. 21  Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. 22  Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. 23  Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele. 1 Co.9.16-22.

INTRODUÇÃO
O propósito de nosso estudo sobre evangelho e cultura trata de nos aprofundar acerca das diferentes formas culturais e como tais podem ser utilizadas na propagação do evangelho. E como estas formas podem interferir no desenvolvimento pessoal, ministerial e eclesiástico.
Todos nós sofremos interferência cultura em nossas atitudes, quer seja em maior ou menor grau. A interferência cultural pode ser classificada em três formas: De maneira positiva; tanto de maneira positiva quanto negativa e de maneira negativa.

CULTURA, UMA SEGUNDA NATUREZA.
O que é cultura? É o estilo de vida, padrões de comportamento, modo de pensar e valores de um povo, casta ou classe social. No dicionário significa: sistema de atitudes e modos de agir, costumes e instrução de um povo.
Todos nós pertencemos a um intrincado ecossistema e trazemos conosco in loco uma grupal e similar cosmovisão a que chamamos “cultura”. Cultura, pois, esta ligada a totalidade dos produtos da atividade humana (materiais e espirituais).
A cultura também pode ser definida como a segunda natureza que procura suprir a ausência parcial de estruturas instintivas em nós. Tal afirmação pode ser exemplificada em linguagem de informática onde cultura pode ser representada como sendo nosso “OS” (Sistema Operacional) pelo qual interioriza e orienta o programa de nossas estruturas psíquicas, valores, normas e até linguagem.
Ao mesmo tempo em que somos personalizáveis segundo gosto particular e possuímos customizações que nos identificam como “persona” ou indivíduos. Assim apresentamos sistemas comuns que nos assemelham como grupo social e funcionamos de forma semelhante regido pelo mesmo padrão cultural.
Não é possível viver sem pertencer a um grupo social e não é possível pertencer a um grupo sem compartilhar uma determinada visão de mundo (cosmovisão), de valores, normas morais, linguagem, idiossincrasia, instituições, etc.
De fato, cada pessoa constituída em sua particularidade pode agregar vários comportamentos sociais específicos que vão delinear seu perfil cultural e idiossincrasia. Este perfil é influenciado por sua etnia, naturalidade, local de residência, grau de escolaridade, tipo de geração a qual pertence, grupo de interesse e etc.

A ORIGEM DA CULTURA ESTÁ NA CRIAÇÃO SOCIAL
Esta segunda natureza, a que chamamos de cultura, é uma criação social gerada de um padrão ou “sistema operacional” de valores. Sendo transmitida, atualizada e aprimorada de geração em geração como resultado de soluções e respostas criativas na superação de cada desafio que a vida nos apresenta pelo decorrer da história.

OBJETIVAÇÃO DA CULTURA E A FORMA COMO LIDAMOS COM O DIFERENTE

Outro aspecto importante a ser destacado está na dificuldade que temos em perceber quando uma determinada cultura se torna nossa segunda natureza dada à assimilação. Ela, pois, representa para nós "a realidade" e não uma interpretação da realidade entre outras possíveis.
Esta orientação cultural determina nossos comportamentos e conceitos pelo estabelecimento e legitimação de critérios entre aquilo que pode ser considerado válido ou inválido, normal ou anormal. A cultura passa a exercer, então, um poder coercitivo.
Obviamente, por força cultural a reprodução desse processo dá às pessoas um forte sentimento de segurança e de normalidade, o que as leva a rejeitar aquilo que é diferente e inovador, principalmente quando tal questiona e conflita com a ordem que é aceita e estabelecida pelo padrão social.
Daí as pessoas com maiores restrições culturais serem as mais inclinadas à coerção e sanções aplicadas, pois tais inovações sociais acabam por ferir seu frágil sentimento de segurança e normalidade.

Logo, neste constante processo de transformação cultural e de acordo com nível assimilação da mesma, nós podemos classificar culturalmente a ordem da sociedade por “tradicional” ou “moderna”.

SOCIEDADES TRADICIONAIS E SOCIEDADES MODERNAS

Há dois grandes modos de legitimar a ordem conforme o tipo de sociedade:

TRADICIONAL: Quando a sociedade é legitimada em nome da tradição que alega ser guardiã dos valores sociais que proporcionam estabilidade e segurança. Nesta ordem estática nada de fundamental pode ser modificado, tendo, portanto, representação da religião como um de seus principais expoentes e uma das bases de sua legitimação. O sistema moral, com seus valores e normas justificados, tem papel fundamental na reprodução da ordem vigente e nos mecanismos de sanção e repressão às tentativas de inovação.

Porém eles não deram ouvidos a isso; antes, procederam segundo o seu antigo costume. 2 Reis 17:40 
Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem. Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? Mateus 15:2,3.

MODERNA: Com as mudanças geradas com o mundo, o progresso torna-se um elemento fundamental tanto no campo ético quanto  material. Neste aspecto a tradição transforma-se em obstáculo.
Na sociedade moderna surge o sujeito como indivíduo autônomo que é valorizado em detrimento da coletividade, cuja ação não tem limites; pois ao indivíduo moderno o novo passa ser o sinônimo do que há de mais elevado. Assim, bom é ser inovador, progressista. Nela existe uma visão extremamente otimista da história humana assumindo uma forma de mito ou crença forte em que o progresso conduz a um amanhã melhor.
O seu proceder não lhes permite voltar para o seu Deus, porque um espírito de prostituição está no meio deles, e não conhecem ao SENHOR. Oséias 5:4
Evidentemente que cada uma destas ordens sociais: tradicional ou moderna traz consigo benefícios e detrimentos a serem pleiteados. Diante destes acirrados defensores: ciência ou religião cabe à mesma sociedade como júri arbitrar seu próprio destino.

O ENDEMONINHAMENTO DA CULTURA SECULAR
Tal é a situação encontrada na sociedade atual, contudo, no mundo secular a cultura tornou-se cada vez mais endemoninhada.
Por exemplo: O forte apelo a sensualidade entre a moda e o despertamento da sensualidade cada vez mais precoce no coração das crianças. Sabemos que muitos traumas sexuais, se originam na infância, por falhas dos pais ou responsáveis; quer pela curiosidade ou por pessoas que aproveitam de sua ingenuidade.
3  Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, 4  nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. 2 Co.4.3,4.
Podemos afirmar que o deus deste século aqui relatado como EON, cujo espírito determina os padrões culturais deste século. Desta forma, reconhecemos a existência de uma guerra de valores, princípios espirituais; sendo os valores e princípios de Deus em contrariedade com os valores do mundo influenciados por satanás, dentro de nossa cultura. Assim, um deverá vencer o outro.

3  Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne. 4  Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas 5  e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, 6  e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão. 2 Co. 10.3-6
No texto acima (2 Co.10), Paulo descreve que as armas do Evangelho são poderosas para destruir fortalezas, as quais muitas delas estão inseridas e impregnadas em nossa cultura, isto é, nosso estilo de vida, padrões de comportamento, nosso modo de pensar e valores criam fortalezas que tende neutralizar a operação do Evangelho. Por isso o próprio Evangelho se opõe a elas.
UM CULTO AMOLDADO A CULTURA E NÃO AOS CÉUS

Outro fator preocupante que leva a constatação em que a cultura evangélica tem sido mais influenciada pela cultura secular e terrena do que celestial está na apresentação de moldes seculares de liturgia. Pois, a forma cerimonial de algumas igrejas está condicionada a cultura de um povo, a sua posição social e outros fatores étnicos. Embora, devemos ter o pré-conhecimento de que nem sempre uma forma ritual, litúrgica ou cerimonial estabelecida em uma comunidade deva ser imutável, tendo-a como norma ou lei universal.
Assim, os fatores culturais e sociais influenciam as igrejas dentro de uma mesma região, embora tais igrejas possam ter nível social distinto.
Então, vemos que igrejas do interior preferem hinos e cânticos no estilo sertanejo, semelhante aos moldes culturais de sua membresia; ou em outros países o country ou folclórico; enquanto as localizadas em cidades e perímetros urbanos preferem louvores mais ritmados, semelhante aos padrões culturais de sua grei. Vemos que a liturgia muda conforme a circunstancias sociais, porém, a mensagem bíblica que se propõem o evangelho deveria permanecer a mesma.
13  O Senhor disse: Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu,   Isaías 29.13.
UMA CULTURA CELESTIAL
17  Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, 18  obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, 19  os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza. 20  Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, 21  se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, 22  no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, 23  e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, 24  e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade. Ef.4.17-24 .
Baseado nos versículos acima, nós podemos considerar que o Evangelho é a cultura de Deus, e uma introdução à cultura dos céus. Através do Evangelho vem ao homem contemporâneo à transmissão dos valores e padrões celestiais e de nossa eternidade.
Quando aceitamos a Jesus Cristo, nos tornamos cidadãos celestiais pela adoção de uma nova identidade; assim, em muitos aspectos, nós somos desafiados a trocar conceitos e valores de nossa cultura e nossa visão. Recebendo da parte de Deus uma nova ótica das coisas, nova visão, nova concepção e nova percepção do mundo que vivemos e viveremos.
É tarefa do Espírito Santo (que habita em nós) fazer com que a verdade de Deus domine sobre nosso pensamento "renovando a nossa mente". Foi isso que o Senhor Jesus disse:
" o Consolador, o Espírito Santo. ..vos ensinará todas as coisas e vos  fará LEMBRAR de tudo o que vos tenho dito"   Jo 14.26
Daí, surge uma pergunta: Será que há em algo nossa cultura que nos leve a uma vida vitoriosa em Cristo Jesus. Necessitamos ser transformados pela RENOVAÇÃO da nossa MENTE e isso se faz através da Palavra de Deus. Observe o que diz Paulo:
"Os que se inclinam para a carne COGITAM das coisas da carne. mas os que se inclinam para o Espírito das coisas do Espírito. ..o PENDOR da carne da para a morte mas o do Espírito para a vida e paz. Por isso o PENDOR da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus. .." Rm 8.5-7
Desta forma, devemos avaliar se de fato nossa fé e conversão a Deus constitui nosso “OS” restando assim para cultura ser nosso software de trabalho; ou se a cultura é o Sistema Operacional de nossa vida e a fé nossa plataforma de trabalho.
            Além disso, estamos convictos que as pessoas escolhem sua conduta de vida cristã e até sua congregação mais por um critério cultural do que por uma direção do Espírito. Até porque elas não sabem ter direção espiritual para tal, pois na ausência de uma orientação espiritual a cultura assume esta função.
Mas, Deus na sua multiforme sabedoria aproveita esta variação cultural para permitir diversidade de igrejas; Talvez sejam os homens que criam igrejas a fim de adaptar a fé a seus ditames culturais, em todo caso, tais pessoas são volúveis, pois são guiadas pela volatilidade da alma subserviente a cultura.

RENOVAÇÃO ECLESIÁSTICA COMO PERFIL DE IGREJA PARA GERAÇÕES X Y Z E ALFA
Tendo em vista à busca por um enquadramento maior de nosso papel como igreja não só para estas gerações denominadas “X” e “Y”, como também para gerações dos próximos trinta anos. Propomos análise profunda de suas estruturas psicossociais, adequação e alcance destas várias camadas sociais.
O Estudo comportamental constata que o desenvolvimento social emergiu das gerações que década após décadas vêm quebrando tabus tornando as novas gerações mais abertas na exposição de seus pensamentos frente aos tabus de outrora.
Que leva a constatação que as elites de classes sociais das gerações Z e Alfa estão cada vez mais conscientes de suas realidades sociais, com posturas cada vez mais ecológicas e saudáveis (visa à longevidade). São globalizadas, adeptas à tecnologia, conectadas, digitalmente nativas, e customizáveis dentro de seus conceitos sociais; é importante ressaltar que a linha de separação entre trabalho e lazer tornou-se mais estreita e flexível (SOHO) com aplicação de tarefas e funções múltiplas, afetando consequentemente as atividades da igreja.
Tais gerações constituem um público exigente e ávido, de crescente individualismo e extremada competição, não hesitam em mudança, estão sempre na busca por novidades, são marcados pela possibilidade de várias opções, pela facilitação da oferta de todos os tipos, bem como de escolhas: "Geração das Escolhas".
Propomos, portanto, renovação de perfil eclesiástico a fim de enquadrar-se nas atuais gerações “X” e “Y” e em “inevitável mudança social” a alcançar gerações “Z” e “Alfa” proclamando de forma contemporânea a eterna verdade de Deus.
Desta forma, é mister buscar mudanças que por nós deverão passar nos aspectos da transformação pessoal, do perfil e da estratégia:
ü     No aspecto pessoal: A apresentação de mudanças em nossa aparência visual é crucial, tanto institucional quanto pessoal, devemos possuir uma aparência mais jovial, informal e descontraída; menos sisuda (demonstração de uma aparência mais amiga, menos autoritária). Devemos ter mente ensinável a fim de evitar a zona de conforto e a predisposição à religiosidade que tende sempre a dizer não.
ü     No tocante ao perfil eclesiástico: A fim de tornar-se uma igreja acessível e atrativa devemos buscar constante atualização na adoração (modern worship); Inovação no segmento da informática (virtualização e conectividade); Em meio a muita informação que aparece numa escala de progressão geométrica as gerações carecem de orientação: “o chefe torna-se líder” pelo perfil de discipulado e mentoria.
ü     No campo da estratégia: Dado ao aumento do individualismo, da competitividade, da diminuição de valores como fidelidade, da tênue linha entre lazer/trabalho, da falta de habilidades em relacionamentos interpessoais; sabemos que um dos pontos cruciais destas gerações será o relacionamento levando-nos a avaliar possíveis soluções como disponibilização e flexibilidade de escolhas. Além de nossas alternativas clássicas de casa luz e trilho de liderança; a viabilidade de casas luz de interesse, ou casas luz temáticas, como casa luz de cura interior, libertação, poder, etc. Permitindo rotatividade conforme necessidade do indivíduo e relacionamento por temas de interesse.

CONCLUSÃO
            Assim, a igreja do futuro será capaz de assimilar e adequar a maior biodiversidade cultural possível. Semelhante uma “POLIS”, a qual absorve todas as tribos urbanas, etnias e modalidades culturais em suas microrregiões; assim a igreja, como uma grande cidade ou metrópole deve agregar suas várias modalidades étnicas e culturais destes segmentos.